História


Nascido em 1989 na Faculdade de Teatro da Universidade Federal da Bahia, Los Catedrásticos surgiu como um anti-besteirol bem à época em que o axé music ganhava força na Bahia. Naquele primeiro esboço de espetáculo as letras das canções eram recitadas em meio a palavras de ordem e ao jargão típico da militância. Então o alvo da sátira a princípio era o mundo acadêmico em sua por isso Los Catedrásticos.

“Los Catedrásticos é o primeiro espetáculo baiano criado por um grupo, que movimentou a combinação de polêmica, platéias e temporadas ininterruptas em proporções solidamente profissionais. Ainda hoje, mais de 20 anos depois, Bofetada, Cafajestes e Catedrásticos compõem o marco referencial de excelência, profissionalismo, sucesso de público, e repercussão do teatro baiano no contexto nacional”, explica Paulo Dourado, diretor do espetáculo.

Espetáculos

O Recital da Novíssima Poesia Bahiana foi o título do espetáculo que marcou a estreia de Los Catedrásticos em 1989. Sua criação se deu no contexto de uma das muitas greves das universidades públicas, como uma entre outras atividades artísticas de um almoço realizado para arrecadar recursos para o “fundo de greve”. Em sua segunda temporada, o Recital transmutou-se em Novíssimo Recital da Poesia Bahiana que ainda viria a ter vários outros títulos durante os seus mais de quatro anos de temporada ininterrupta (NPB – Novíssima Poesia Bahiana; NPB; NPB – Uma Ópera Buffa; NPB Remasterizada – Incluindo Novos Sucessos; A Comédia Bahiana e Enfim o Fim), correspondendo sempre a atualizações ou outras mudanças de roteiro.

De 1989 a 1992, o elenco fixo original trazia Cyria Coentro, Jackyson Costa, Meran Vargens, Ricardo Bittencourt, na temporada seguinte, de 1997 a 2001, as apresentações tinham à frente os mesmo atores com exceção de Meran Vargens. Quem passou a integrar o grupo foi Maria Menezes e o ator Zéu Britto, com substituições de João Miguel, Najla Andrade, Aycha Marques.

Imaginária Mente – O público poderá ainda conferir no foyer do Teatro Jorge Amado uma exposição com a trajetória do Los Catedrásticos nesses 23 anos de existência. Todo o acervo de textos, fotografias e vídeos estarão ao alcance do público na mostra batizada de Imaginária Mente. 

LOS CATEDRÁSTICOS: A COMÉDIA BAIANA
OU QUEM TEM MEDO DA IDADE MÍDIA

                                                                                                                      Paulo Dourado

Prólogo: Um dia que durou 12 anos.

(Cinco atores no palco. B.O. ou quase sem luz...)

Coro:“Polêmicos! Racistas!! Burgueses! Maquiavélicos!! Perfumados! Classe-média!! Preconceituosos!!  etc...
Voz Ator: (suave): Não, não... nada disso.
(Épico/Jogral solene, luz de epopéia): No início era o Verbo... / E o Verbo se fez carne /  E “encarnou” entre nós. / E era o tchan...
Ator X: Foi só depois, muito depois, que veio o Anã !
Ator Y: (Quebrando o clima/luz geral): Anã?Anã !? Que ”anã”, menino? Que é isso, meu fio?
Ator X: O anã! (surpreso, faz o gesto mostrando a altura): o anã!! - Nossa Juventude!!
Ator Y: (Alguém que entendeu soletra): A - não!! Anão!
Ator X: Não o quê, sinhô! O anã[1] é o maior sucesso deste verão (se ajoelha e requebra.) / “Anão”, a palavra é anão!! / A palavra é loucura!!
Jogral Heróico: Loucura é quando um dia dura 12 anos. / Há 12 anos atrás, em 1989,/ Um grupo de jovens atores / Idealistas, românticos / Apaixonados por poesia / Criaram um recital / Para uma apresentação,ÚNICA / Durante mais uma das inúmeras greves da Universidade./ Esse grupo veio a ser conhecido como...
Todos: (Tremolo, em tom de terror trash): “Los Catedrásticos”!! / Mas, no ínicio mesmo (gesto da propaganda do barbeador) fazia tchan. tchun! e... (5º Sinfonia) Tchan, Tchan, Tchan,Tchan... /(Alguém interrompe de novo): Que coisa antiga! Que tristeza!! / Nada disso!
Épico/Jogral: No início era a MÚSICA, o SOM, o OM... / E era a dança, em volta do fogo, sob o céu estrelado... / A poesia era a surpresa, diante da luz, das coisas e da própria vida, / Em seus caminhos infinitos e labirintos... (Gestos grotescos de Los Catedrásticos) - Por isso, toda vez que a nega-do-cabelo-duro-que-não-gosta-de-pentear passava na baixa do Tubo... / O negão começava a gritar: / Eu sou negão!Eu sou negão!Meu coração é a liberdade! / E o Faraó, ó, ó, ó, ó... abriu a rodinha. / E eu te futaco, te futeco, te futuco – Tô maluco! / E a Kirica na Buçanha? Chupa Toda! / Meu neguinho, minha neguinha... / Por favor, meu amor, abra a rodinha. Por favor... abra... a rodinha! mômô... / Pra quê? Pra passar batom, de que cor? de cor azul, na boca e na porta do... céu!
Todos: Eram “os” Los Catedrásticos[2] / E o seu Recital da Novíssima Poesia Baiana .../  Poesia? E a letra de música é poesia? / Alta Periculosidade! / Polêmica! Sucesso!! / Bem recebido por todos os públicos! / Da comunidade dos Alagados ao Teatro Maria Bethânia[3], meses, lotado de quinta a domingo. / Dos malucos do Hospital Juliano Moreira, aos teatros elegantes do sul do país – tão malucos quanto os do Juliano. / São os “Novíssimos Baianos”, disseram. / Los Catedrásticos são referidos em tese de Mestrado, (no Rio!) / “Uma saudável polêmica” acontece na imprensa. / Os autores das músicas? Dão todo o apoio. / O Olodum convida pra debate público.[4] / O guarda vai multar o carro? / Não vai não... “São os Los Catedrásticos !” / E o Recital da Novíssima Poesia... / Poesia? / Bahiana, criado para uma apresentação – única! / (na greve, lembra?) / Ficou em cartaz de 89 a 92 – (Todos) – Quem diria! /Três anos e meio ininterruptamente em cartaz. /Quase trezentas apresentações para bem mais de 100.000 espectadores. / Uma carreira de polêmica e sucesso. / Uma peça totalmente baiana. Bahiana com H – era um fato inédito![5] / Entre 93 e 96 fizemos outras peças... / E em 97 estreamos:
Todos: O Novíssimo Recital da Poesia Bahiana! /(Um ator) Ihhhhh... / Aí começaram os nossos problemas .../ O sucesso continuou, maior ainda! / Mas muita gente ainda não entendeu, até hoje, que era outra peça. / Outra. Totalmente diferente! / Mas também com esse nome... / A 1ª se chamava “Recital da Novíssima Poesia Bahiana” e a 2ª “Novíssimo Recital da Poesia Bahiana”./ Durma-se com um barulho desses! / Por isso, depois de um tempo, mudamos o nome da peça / E ao mesmo tempo atualizamos o nosso repertório / A peça agora chamava-se “NPB – Novíssima Poesia Bahiana”. /NPB é um jogo com MPB, entendeu?/ Não? MPB, música popular brasileira... / Depois só o “NPB” e depois com o repertório atualizado – “NPB - uma Ópera Buffa”./ Ópera Buffa?! Nunca gostei desse nome... / Depois “NPB – Remasterizada[6]: Incluindo novos sucessos”. / Não precisa nem dizer que incluía os novos sucessos do verão, não é? / Aí já era o ano 2000 / Mas também com tanto nome a imprensa e o povo só podia ficar maluco! / Mas não é bem assim, não. / É mesmo. Ainda hoje tem gente que diz: “Catedrásticos?! Ihhhh, já vi em 89, lá na Escola de Teatro, no Canela, ali, junto ao Paes Mendonça...”[7] / Agora, estamos aqui com “A Comédia Bahiana”./(Tom de pregão) – Depois da Divina Comédia... / E da Comédia Humana.../ Afinal, “A Comédia Bahiana”! / E foi assim que um dia durou 12 anos./  E 12 anos, juntos em um grupo, equivale a 120 anos de vida. / É um casamento! /Agora, em todos esses anos nosso casamento só admitiu um único parceiro: (Pausa)
Todos: O PÚBLICO! (luz de platéia – o grupo aplaude o público) / (Sai luz de platéia) – Acho mesmo é que vocês é que são os verdadeiros Los Catedrásticos! Nunca tivemos apoio de patrocinadores, de governo, de ninguém! / Mas, sempre tivemos público! / Em todos os cantos onde temos andado, / Dos lugares mais elegantes ao muquifo mais miserento, / Sempre teve alguém rindo, aplaudindo,/ gritando, debatendo, / Partilhando a nossa viagem. / Por isso queremos fazer uma homenagem especial a vocês, hoje. (Pausa) /Coro: Seja Catedrástico por uma noite! / Venha deixe aparecer o artista que existe em você. / Vem neném, Vem neném. / Venha cá, venha cá, Venha cá, venha cá. / Seja você também um Catedrástico! / É só por uma noite/ Não vai doer/ Abra a rodinha/ Ô Corisco, Maria Bonita mandou lhe chamar/ Vamos abrir a roda-enlarguecer, etc.


(Fragmento do texto de Los Catedrásticos : A Comédia Baiana/ Temporada 2001)

Esse era o texto através do qual o público era convidado a participar (recitando uma letra) de Los Catedrásticos. No fundo eles sempre souberam que eram eles (o público) os tais “Catedrásticos” e talvez por isso tantos risos, e também tanta participação, e até algumas performances verdadeiramente brilhantes. Dizer que o público é parte imprescindível do fenômeno teatral pode, a esta altura, soar demasiado teórico. Todos nós do mundo do espetáculo sabemos bem a distância entre a palavra e a experiência. A idéia de que “a palavra mata” (principalmente se escrita) adquire uma conotação singular no contexto do fenômeno teatral, sobretudo porque a palavra define e delimita justamente os aspectos ágrafos da espetacularidade tais como a festa, o encontro, as imponderáveis dinâmicas coletivas, o númen mesmo da poesia dramática que estão encarnados na presença do público. Não é à toa que o teatro é duplo: ao mesmo tempo palavra (ou texto) e ação (quer dizer, efeméride e experiência coletiva). O texto dramático então é aquele competentemente dotado dos vazios e falhas imprescindíveis à ação e ao imaginário cênico. Foi em função disso que incorporamos a esse artigo alguns fragmentos do texto e de outros elementos mediadores do encontro entre atores e público, na expectativa de oferecermos ao leitor subsídios, ainda que residuais, da nossa experiência, digamos, artística.


Recital da Novíssima Poesia Bahiana foi o título do espetáculo que marcou em 1989 a estréia de Los Catedrásticos, um grupo (de fato um dos pouquíssimos grupos de teatro que já atuaram na Bahia) que permaneceu em atividade por doze anos, quase treze, em que quase sempre esteve envolvido com “recitais de poesia”. Claro que precisamos antes de tudo esclarecer o sentido da designação “recital de poesia” na acepção catedrástica, quer dizer, no âmbito dos dois atos do Recital da Novíssima Poesia Bahiana. O segundo ato, que marcou tão profundamente e por tanto tempo a identidade do grupo e de seus integrantes, era composto por cerca de 30 letras de um tipo de canção extremamente popular na Bahia dos anos oitenta: “o” axé-music. Foram essas letras (a “novíssima poesia”) as responsáveis pela polêmica que acompanhou e justificou Los Catedrásticos durante os doze anos de intensa atuação do grupo. O primeiro ato que era, por sua vez, composto de uma pequena antologia de brilhantes poetas baianos, transitava de Gregório de Mattos a Sosígenes Costa passando entre outros por Castro Alves e Pedro Kilkerry e concluía com letras de “sambas-exaltação” a uma Bahia tropicalista e estereotipada idealizada por gente de peso como Ary Barroso, Caymmi, Herivelto Martins e outros como Paulo Diniz, Antonio Carlos e Jocafi. Malgrado nossos esforços para incorporar Gregório e Sosígenes (veja o poema no destaque) à polêmica que se seguiu à estréia do espetáculo (dissemos por exemplo que Gregório, pela sonoridade exacerbada dos seus poemas e pela ampla utilização de expressões africanas e indígenas em prejuízo da semântica, era o verdadeiro criador da axé-music) acabamos por retirá-los do espetáculo durante a nossa segunda temporada (já em 1997) porque ao contrário do que ocorrera em 89 o público aparentemente não percebia ou não valorizava o suficiente essas analogias e contrastes, talvez incomodamente eruditos em um espetáculo que se pretendia popular.

“Dizem que sou poeta da Bahia/ Eu não sei porque isso/ Eu não como efó/ Nunca vi um acarajé
Eu não sei o que é obi, nem ebó, nem vatapá/ Nunca vi Bejerícum, nem orô, nem orobó/ Não vendo cocada/ Não vendo jiló/ Não sei quem é Jubiabá/ Não sei quem é Dona Lóló/ Não compro na biboca nem erê mais aterê/Eu não vivo labutando com a Baronesa do Passe/ Nunca fui a Itaparica/ Não vou a festa de bagunça onde tem faca e fuzuê/ Não pesco de puçá /Nunca fui pegar siri/ Se se come carurú com farinha ou acaçá não sei/ Eu não moro em casa velha que levantou o vice rei/ Não faço feitiço/Não ando em candomblé/ Não acompanho procissão de ôpa velha lá da Sé/Eu não toco pandeiro/ Não toco ganzá/ Não planto guiné nem croto dois de julho/Não rezo pra Santo Antônio, nem São Cosme nem Damião/ Não sou esquerdista ou direitista/ Nem farrista/Ou sacrista/Nem Vitória/ Nem Bahia, que já é até um deboche/ Minha noiva não tem coche que pertencesse a Dom João/ Nunca fiz um soneto ao casamento da raposa/ Minha avó não é Moema/ Nem meu pai Tomé de Souza...
 (Poeta da Bahia - Sosígenes Costa – adaptação de Los Catedrásticos)

O Recital da Novíssima Poesia Bahiana, no entanto, não surgiu e nem foi concebido como um espetáculo profissional. A sua criação se deu no contexto de uma das muitas greves das universidades públicas, como uma entre outras atividades artísticas de um almoço realizado para arrecadar recursos para o “fundo de greve”. Naquele primeiro esboço de espetáculo as letras das canções do axé-music eram recitadas em meio a palavras de ordem e ao jargão caquético e típico da militância, cuja repetição, associada à pobreza de idéias, finalmente acabou por esvaziar a dimensão política do movimento docente. Então o alvo da sátira a princípio era o mundo acadêmico em sua proverbial rigidez e arrogância: por isso “Los Catedrásticos”.
Há espectadores para quem o teatro é essencial exatamente porque não lhes apresenta soluções, mas nós. O espetáculo é o início de uma experiência mais longa. É a picada do escorpião que faz dançar. A dança não acaba na saída do teatro. O valor estético ou a novidade cultural do espetáculo são o que tornam agudo o ferrão. Mas o seu precioso veneno vem de uma outra parte,” ensina Eugênio Barba em seu Viagens com Odin . Portanto, nosso método (nosso veneno) era o de estabelecer uma analogia entre aqueles manifestos (descendentes do “Samba do Crioulo Doido” de Sérgio Porto) e outras louvações à uma baianidade folclorizada, claramente ridícula do ponto de vista da academia e o discurso “político” da militância universitária.

O veneno da performance catedrástica transbordou os muros da academia e foi assim que, para atender a diversas solicitações, acabamos por elaborar o Recital da Novíssima Poesia Bahiana. Foram no total dois ou três ensaios. Estabeleceu-se como fundamento (artaudiano?) que iríamos construindo e/ou modificando o espetáculo em contacto com o público, a partir de qualquer fator que nos parecesse válido, aliás, como faz qualquer boa comédia desde tempos imemoriais. O espetáculo baseava-se na estética de um recital (absurdo) de poesia ou canto lírico. Os atores em trajes formais, negros, com um lenço na mão, dirigiam-se diretamente à platéia em solos ou em forma de “jogral”.

Deuses, divindade infinita do universo/Predominante esquema mitológico/A ênfase do espírito original Chu/ Formará no Éden o ovo cósmico/ A emersão nem Osíris sabe como aconteceu (bis)/ A ordem ou submissão do olho seu/ Transformou-se na verdadeira humanidade/ Epopéia do código de Gebi/ E Nut gerou as estrelas/ Osíris proclamou matrimônio com Isís/ E o mau Set irado o assassinou/ E impera, á/ Hórus levando avante a vingança do pai/Derrotando o império do mau Set/ O grito da vitória que não satisfaz/ Cadê? Tutancamon, Ê Gizé / Akhaenaton, Ê Gizé. // Refrão: Eu falei faraó, ó, ó / Ê faraó/ Clama Olodum, Pelourinho / Ê faraó/ Pirâmide a base do Egito / Ê faraó/ Clama Olodum Pelourinho / Ê faraó/ Que mara/mara/mara/ maravilha ê Egito, Egito ê /Faraó, ó, ó, ó, ó // Pelourinho uma pequena comunidade/ Que também Olodum unira/ Em laços de/ confraternidade/ Despertai-vos para cultura egípcia no Brasil/ Em vez de cabelos trançados/Veremos turbantes de Tutancamon/ E as cabeças se enchem de liberdade/O povo negro pede igualdade/ E deixemos de lado as separações./Cadê? Tutancamon, Ê  Gizé / Akhaenaton, Ê Gizé.  (Faraó - Composição: Luciano Gomes)

O lenço servia, ao modo dos cantores líricos, para secar suavemente os lábios (veneno?) no final de cada poema, um pouco antes da reverência, e dos aplausos quase sempre entusiásticos. Apesar de inserirmos aqui e ali, como um sinal de perigo, alguns textos de Artaud (que funcionavam como zonas de incompreensão), a estrutura do “recital” era extremamente simples: cada ator fazia aproximadamente cinco “solos”, intercalados por alguns coros e jograis (que funcionavam como entremeios ou separatrizes das “cenas”), recitando, com uma certa formalidade caricatural, e diretamente para a platéia, os “poemas” que, como foi dito, no primeiro ato eram dos poetas consagrados da Bahia  e no segundo ato eram as letras do axé-music[8].

Importante observarmos que na segunda metade dos anos 80 o teatro baiano passava por uma fase crítica de crescente perda de visibilidade e vitalidade, fato que se tornava ainda mais evidente pelo surgimento de uma próspera indústria regional de música. Da inspiração ou do esforço de vários segmentos – blocos afro, blocos de Trio, compositores experientes, ou ilustres desconhecidos -  surgiam inumeráveis “Sambas-reggae”, “Deboches”, “Ti-Ti-Tis...” e além desses, praticamente a cada dia espocavam novos gêneros e sucessos instantâneos, em uma bem urdida e competentíssima trama de criação e produção que não tardou a envolver todo o Brasil e além, através de várias e prodigiosas realizações internacionais[9], em um processo todavia em franco desenvolvimento.
Por isso, enquanto os acordes da brilhante “Eu Sou Negão” (Gerônimo), da escandalosa “Nega do Cabelo Duro” (Luis Caldas) e da épica e orgulhosa “Faraó” (Luciano Gomes) ainda nem bem tinham parado de reverberar nas paradas e quebradas, e já um grupo de teatro (teatro!?) aparecia recitando de modo escandaloso as letras daquelas canções de sucesso, isso acabou gerando uma onda de polêmica e curiosidade em torno do nosso espetáculo e estabelecendo uma aura de vitalidade ausente do cenário teatral da Bahia já há alguns anos. Foi justamente o interesse, a curiosidade do público e a polêmica que se desenvolveu não apenas na imprensa (através de inúmeros artigos e “críticas” sempre de aprovação ou desaprovação radicais), mas também através de palestras e debates, do depoimento de músicos ou estudiosos, sempre animadamente contra ou a favor “daquilo” que o espetáculo expunha, foi tudo isso que transformou aquela performance da greve, primeiro em um espetáculo a ser apresentado em bares, restaurantes e casas noturnas em geral e depois, quando finalmente cedemos às pressões e apelos, em um espetáculo “profissional”, pronto para ser apresentado em teatros com um palco à italiana.

Nesse processo de transformação foram muitos os incidentes envolvendo Los Catedrásticos, que revelavam e de certo modo confirmavam a trajetória do grupo. À surpreendente recomendação e comentários de Caetano Veloso durante sua temporada de shows em Salvador/1990 (ele tinha assistido ao recital em uma boate!) somam-se alguns eventos curiosos da primeira temporada de apresentações contínuas do espetáculo, realizada em um teatro-bar nos jardins da Escola de Teatro da UFBA. Criada despretensiosamente, aquela “performance de greve” trazia em suas entranhas um perigoso e delicado problema de direitos autorais. O problema é que, pelo menos trinta letras de canções de sucesso, de autores diversos, eram recitadas na íntegra, isso sem mencionar os vários fragmentos de letras, poemas, e de outros textos diversos. Naturalmente, nenhum autor foi consultado e se tivessem sido, creio que jamais autorizariam previamente a utilização das suas obras e muito menos para “aquele” recital. Além disso, havia a evidente questão da remuneração. Autores de sucesso que eram, jamais aceitariam o nível de remuneração praticado e exeqüível a uma produção independente do teatro baiano. Aliás, durante todos os anos de Catedrásticos, não houve uma pessoa sequer (de fora do mundo do teatro), que não tivesse manifestado sua surpresa e decepção ao tomar conhecimento dos valores (financeiros no caso) envolvidos em um projeto tão bem sucedido e “glamuroso” como Los Catedrásticos, (registre-se que as remunerações do “teatro de sucesso” parecerão sobretudo modestas se comparadas às da “música de sucesso” tematizada no Recital).

Seja como for, o problema estava instalado conosco, ali nos jardins da Escola de Teatro, transformada em um dos “points” daquele verão, pela primeira temporada realizada por Los Catedrásticos, depois de vários meses em espaços não teatrais: boates, restaurantes, bares, sindicatos, escolas, empresas etc.. Os comentários de gente como Caetano Veloso, somados às polêmicas na imprensa e à presença de figuras notáveis do ambiente cultural brasileiro (tais como José Celso Martinez, Arnaldo Jabor, Roberto Talma, João Falcão, Celso Nunes, Marlize Meyer e outros) já haviam criado uma “aura” diferenciada para o Recital. “Na Bahia ninguém fica em pé” diz o provérbio traduzido pelo lendário e folclórico “coronel” Cosme de Farias como: “Na Bahia o sujeito paga 200 para o outro não ganhar 100”. Então, ao estrearmos nos jardins da Escola de Teatro já pairava no ar a acusação de racistas, “classe-média desfazendo da cultura popular” elitistas, etc.. De nada adiantaria termos feito tantas e extremamente bem sucedidas apresentações em ambientes culturalmente associados à negritude e ao “povo” como o próprio Olodum, praças do Pelourinho, bairros como Alagados, Ribeira, Lagoa do Abaeté etc.; uma parte considerável dos intelectuais, da crítica e da classe teatral (contrariando o imenso público) aferrou-se em acreditar que estavam diante de um espetáculo elitista e levemente racista.

Então em uma das nossas primeiras apresentações daquela primeira temporada fixa, com a platéia lotada, aconteceu o inevitável. Possivelmente motivado pela polêmica, um provável militante (?) de movimentos raciais levantou-se no meio do espetáculo e gritou indignado, com a voz estrangulada pela emoção: “Apartaid não!”. Isso, em pleno verão, logo após um deslumbrante pôr-do-sol, num teatro-bar ao ar livre, com a platéia às gargalhadas... Foi um choque! Os atores atingidos durante a representação foram arrancados brutalmente do seu transe cômico, da tarefa mágica produzir uma reação a cada verso/gesto na delicada corda-bamba do imemorial ritual do teatro... “Apartaid não!” Agora quem estava em transe era a platéia. “Apartaid não!” O “rastaman” que estava ali seguia gritando repetidas vezes, de pé, com o punho esquerdo erguido (como um black panther), “Apartaid não!” Estaria se defendendo e defendendo o rastafarianismo (?), ou em qualquer caso defendendo a sua negritude de um inconcebível mas certamente desejado e amplamente previsível ataque dos brancos? “Salassiê era uma Rei / que gostava de reggae iô, iô” (Três vezes) /“Bob Marley era um Rei / que gostava de reggae iô, iô” (Três vezes). Não importava que o controverso ditador etíope Ras Tafari Selassiê (esse é o seu nome) cristão, monarquista, imperialista e sanguinário, entre outras coisas, desaprovasse publicamente o fato de ser considerado o “Messias”, um avatar libertador dos povos negros, cultuado por uma exótica “religião” jamaicana. “Apartaid não!” Jamais saberemos quantas vezes gritou. Subitamente calou, sentou-se e o recital que tinha “congelado” recomeçou como se nada tivesse acontecido. Ao fato, que foi noticiado nos jornais, e que confirmava nossa missão em territórios artaudianos, somaram-se outras várias demonstrações de indignação, como por exemplo a do “crítico” que sugeriu que os músicos do Olodum agredissem fisicamente os atores. Tudo isso por fim estabeleceu a base para a nossa apreensão em relação à única possibilidade de interdição do espetáculo que era uma eventual contestação da parte dos autores.

O desconhecimento geral, mas sobretudo o dos juízes, aliado às inconsistências e precariedades das leis brasileiras de direitos autorais nos sinalizavam que deveríamos, a todo custo, evitar o terreno pantanoso da “justiça”. Por isso, quando vimos dois dos mais conhecidos integrantes do “Chiclete com Banana” na platéia pensamos que teríamos problemas. E pensamos isso porque: a)”Se liga Brasil, eu sou brasileiro” criada e gravada com enorme sucesso pelo “Chiclete”era um dos pontos altos do recital; interpretada furiosamente, (como Chaplin em “O Grande Ditador”) ao som do Hino Nacional solfejado em coro pelos atores cujo  braço estirado associava nacionalismo/ integralismo/ nazismo/ e ... axé-music(!), isto é, sucesso, moda, baianidade, folclore, etc; e b) o “Chiclete com Banana” que era um parente distante do Tropicalismo e dos “Novos Baianos” foi quem praticamente lançou as sementes do axé-music antecipando esse movimento em pelo menos 15 anos. A engenhosa expressão “Chiclete com Banana” é o título de um grande sucesso dos anos 50 na voz de Jackson do Pandeiro, e curiosamente ecoa o elemento sincrético, já presente na união das palavras “Jackson” e “pandeiro”. Essa canção,  uma espécie de samba-rock (banana-chiclete), foi regravada por Gilberto Gil no início dos anos 70, no histórico disco “Expresso 2222”, quando do seu regresso da Europa, onde esteve exilado pela ditadura militar, a título de resposta à velha indagação sobre as “raízes” musicais brasileiras. No final da década de 80 o Chiclete já era um sólido sucesso nacional, superando amplamente em vendas aqueles que inspiraram o seu surgimento.

Por tudo isso a presença de dois líderes do Chiclete na platéia de Los Catedrásticos poderia significar uma brusca mudança no rumo do jogo. Até então o escândalo tinha operado a nosso favor. O envolvimento de figuras, grupos e da imprensa local, de certa forma conhecidos, significava que tínhamos controle e alguma autoridade que nos era conferida tanto pela pertinência quanto pelas qualidades artísticas do nosso espetáculo, amplamente corroboradas pela reação do público. Já lidar com figuras nacionais, que poderiam não ver tudo aquilo com bons olhos, era outra coisa. Por isso depois do espetáculo nos divertimos com a expectativa de que a “previsível” proibição dos autores saberia a chiclete de banana. No dia seguinte, os “chicletes” realmente voltaram, mas em lugar de oficiais de justiça ou mandatos de segurança, trouxeram os outros músicos da banda com suas mulheres, velhos e crianças, um simpático grupo que se divertiu a valer com tudo o que viu, inclusive com o “Se Liga Brasil...”. Apesar de toda a polêmica, a atitude dos “chicletes” foi como que um padrão e em todo o tempo em que os recitais estiveram em cartaz, os músicos não apenas não atrapalharam, mas sobretudo apoiaram e até estabeleceram parcerias conosco, como foi o caso do Olodum, Margareth Menezes, Gerônimo, Sarah Jane e tantos outros, entre os quais Luis Galvão e Moraes Moreira (Novos Baianos) que até nos homenagearam com uma canção.

Então, se não eram os autores nem os músicos que, em geral (houve exceções), receberam a sátira com humor e generosidade, quem estava por trás de tanta polêmica? Jornalistas, “críticos”, professores, intelectuais, gestores de espaços públicos ou privados, “forças ocultas” das ações e políticas culturais...? E por que? Foi Tom Jobim quem declarou: “no Brasil sucesso é ofensa pessoal”. Uma das estratégias dos “ofendidos” é tachar de “comercial” aquilo que faz sucesso, como se ser “comercial” fosse um defeito em si. A maioria dos que compõem a classe teatral baiana é jovem (desconfio que é assim em quase todo o Brasil). E é assim porque como praticamente não há profissionalização, os jovens quando deixam de ser jovens também abandonaram a atividade teatral para se dedicar a outras profissões. Esses jovens ignoram que Shakespeare era um grande sucesso comercial. Brecht também. Aliás, Shakespeare e Brecht são grandes sucessos comerciais e, provavelmente, ainda o serão por muito tempo.

“O público consegue ver certas coisas que só poucas pessoas conseguem...” Falcão, vocalista do “Rappa” (galã negro, dreadlocks, e figurino rapper), opõe, em uma frase irada, o público (que no caso dele são muitos milhares por show embora ele os designe como um – “o público”) aos críticos, que são poucos e dentre os quais somente alguns, os especiais, veriam o que o público vê. Mas aqui ainda estamos no caso do histórico e proverbial divórcio crítica X público: Shakespeare, também, era espezinhado por críticos e aderentes. Em um artigo sobre a onda de franquias dos grandes musicais (Londrino/Nova Iorquinos) clonados em Berlim e outras cidades européias (também em São Paulo há já alguns anos), um crítico na Humboldt aponta o fato de que o público que freqüenta esses musicais não poderia ser contabilizado nas estatísticas teatrais, porque, como esse público não freqüenta outros espetáculos de teatro (bem como o espectador “padrão” do teatro também não freqüenta os tais musicais), não poderia, rigorosamente, ser considerado “público de teatro”.

A esta altura poderíamos pensar, “baianamente” no caso, que o crítico alemão concluirá que uma vez que o público dos musicais não é público de teatro, logo também os musicais não poderão também  ser considerados como teatro. Ainda que os críticos não vejam (segundo Falcão) o mesmo espetáculo que o público consegue ver, a maioria concordará que o público teoricamente é imprescindível, embora alguns tentem na prática transformá-lo em um detalhe inevitável e quase desagradável e por isso toda essa incrível mitologia do “comercial” e do entretenimento. O que o nosso crítico da Humboldt pretende é destacar o fato de que existem públicos distintos para diferentes tipos de teatro. E se o público do teatro “padrão” (seja ele comercial, cultural, de arte, de vanguarda, de pesquisa, antropológico etc.) está diminuindo (e se formos dar crédito a Karl Valentim e ao seu manifesto pelo “Teatro Obrigatório”, está diminuindo há muitos anos), o público dos musicais clonados, ao contrário, está crescendo e muito. Aliás, não precisamos da Humboldt para percebermos que o crescimento dos públicos que saem à noite em busca de diversão e entretenimento é um fato histórico e já não há governos “modernos” que não incluam o direito ao lazer, à arte a à cultura entre os preceitos básicos da cidadania. Ocorre que boa parte dos “pensadores” e dos jovens artistas do teatro se aferra a raciocinar em termos categóricos: crêem, por exemplo, que o teatro é Arte e é Cultura e não entretenimento. A categoria “entretenimento” compreende qualquer tipo de espetáculo (ou obra levada ao público) que, para cumprir a finalidade de atingir o maior número possível de pessoas, recorre a expedientes grosseiros e apelativos e faz todo o tipo de “concessões”, num esforço ignominioso para agradar e mesmo ampliar seu público. E assim, “Teatro não é para divertir”; “Teatro não é entretenimento”; “Teatro não é para se ganhar dinheiro”, etc... além de outras frases do tipo que acabam por impedir os verdadeiros fantasmas do teatro de saírem do mundo de Pluft para o de Hamlet.

Pouquíssimos se arriscam (porque há o risco de ser considerado “comercial” e isso deve ser mais grave do que um teatro vazio). Pouquíssimos tentam criar espetáculos para esse público do “entretenimento”, que cresce vertiginosamente, aqui como na Alemanha. Não foi justamente esse risco que fez de Shakespeare, Ibsen ou Brecht, sucessos escandalosos, cada um a seu modo e no seu tempo? Em relação à evidente ingenuidade, para não dizer leviandade, do esforço opositivo entre “cultura e entretenimento” citamos a fala de Meyerhold extraída do livro Além das Ilhas Flutuantes de Eugênio Barba: “É certo que devemos fazer com que as pessoas do público paguem pelo teatro que elas querem, porém deveríamos pagar a elas, do nosso próprio bolso, para fazermos o teatro que nós queremos”.

As palavras do velho mestre da biomecânica permitem várias reflexões, mas são inflexíveis e cristalinas quanto à sua equação básica: o publico pagará se o espetáculo for interessante. Ou o público só pagará se for interessante. O teatro profissional é um serviço (transcendental, político, poético, estético...) a ser remunerado na medida da sua relevância e eficiência e essa medida é evidentemente o número de espectadores, quer dizer de pagantes. “Interesse” é a única e a última palavra pronunciada por Deus quando inquirido por um anjo sobre a solução para os eternos desencontros do teatro, na cena descrita por Peter Brook, nas páginas finais de seu “Ponto de Mudança”. Barba ainda vai um pouco além: “a matéria prima do teatro não é o ator(...) mas o interesse, o olhar, a escuta. O teatro é a arte do espectador.” É em função disso que podemos considerar totalmente aceitável a platéia vazia de um espetáculo que foi feito para o público. Já a platéia vazia de um espetáculo que não foi feito para o público é um monumento à insensatez e certamente uma forma de escárnio. Um teatro de Arte é o que interessa naturalmente ao público. A Arte do teatro é interessar; vale dizer: encontrar formulações estéticas que interessem é o ethos do teatro, mesmo aquele que não é assumidamente profissional. Um teatro que não interessa ao público obviamente não possui função social (pública) e seus integrantes deveriam, na sentença meyerholdiana, pagar “do próprio bolso” aos espectadores para assisti-los.

Ao contrário dos seus similares do áudio visual que dependem de estruturas caras e complexas de distribuição e /ou exibição, o teatro, o da Bahia, como o de qualquer parte do mundo, pode encontrar no contacto direto com o público e na “propaganda boca-a-boca” um caminho (talvez o único) para a sua consolidação. Esta é apenas uma entre tantas outras características tribais que fundamentam esse veículo milenar de cultura e sabedoria, desde suas origens.

Mas a questão dos pagantes apontada por Meyerhold, que já era significativa desde a Grécia Clássica, assume uma característica singular no tocante ao teatro baiano, que tentaremos analisar a partir da noção de “público”, tal como definida pelo Falcão do Rappa e da noção de “não-espectadores” de teatro articulada pelo crítico da Humboldt. O número de pagantes no teatro baiano era no final dos anos 80 muito pequeno e podemos afirmar que “visivelmente” ainda é, até porque de fato e sintomaticamente não existem estudos ou estatísticas a respeito. Aquelas pessoas (poucas) que freqüentam os espetáculos são em geral gente de teatro, estudantes, professores, críticos, gestores de instituições culturais, além dos inevitáveis amigos e parentes. Essas pessoas não podem ser designadas como “público”, mesmo que em alguns poucos casos paguem (para ajudar) e, às vezes, em pequenas temporadas ou pequenos espaços dêem a impressão de “casa lotada”. São de fato integrantes do universo “privado” do teatro e não podem sequer ser confundidos com o espectador “padrão” de teatro, aquele que regularmente “não freqüenta” musicais, como apontado pelo crítico alemão. Essa parcela de público, à qual nomeamos aqui como “privado”, aparece referida no livro O Teatro e seu Espaço (The Empty Space no original de 1968) de Peter Brook, no capítulo “Teatro Morto”, onde ele também discute o “esvaziamento mundial do teatro”, a exemplo do que também fez Artaud em O Teatro e seu Duplo (1940) e tantos outros. O espectador “padrão” de teatro, apesar de tudo, praticamente não existe na Bahia, que no entanto possui espectadores “padrão” de cinema e de shows de música, sobretudo axé e pagode, mas também forró, MPB e POP[10]. Marcada por políticas de financiamento (públicas e privadas) grosseiramente equivocadas (em geral voltadas para o “teatro arte”, teatro experimental, etc.) a Bahia nunca conseguiu criar um sistema regular de produção, circulação e consumo de teatro que fosse autônomo e atrativo para o público. Naturalmente, quando falamos de cultura teatral o elemento chave é o público. Na Bahia nada (ou quase nada) sabemos sobre ele. Nunca se construiu a presença regular de um público de teatro e por isso permanecemos na espera do “privado”.

O caso de Los Catedrásticos é, primeiro, o caso das exceções, “mega-sucessos” que volta e meia acontecem e sempre mantêm as aparências; e é em segundo lugar o caso do “não-teatro”, como os musicais clonados da Alemanha. O espectador de Los Catedrásticos é justamente o “não espectador” de teatro, aquele cuja categoria está em expansão em todo o mundo e aquele que no caso da Bahia comparece aos milhares quando um espetáculo ultrapassa a barreira do privado. Então uma das razões da polêmica em torno de Catedrásticos certamente se deve ao fato de que o seu sucesso tenha demonstrado incomodamente que na Bahia existe um grande público potencialmente interessado em projetos cujo horizonte não seja privado. Isto posto, devemos afirmar ainda que Los Catedrásticos de fato não é teatro (também como os musicais) ou pelo menos é um não- teatro.

“Representema” é o termo utilizado por  J. Guinsburg e Teixeira Coelho Neto em seu conhecido artigo “A significação no teatro” (do livro Semiologia do Teatro) para referir-se a um  certo tipo de manifestação teatral. À maneira da lingüística, eles reconhecem no teatro (na linguagem teatral) dois níveis de manifestação, sendo “teatrema” o primeiro e representema o segundo. Assim, segundo Guinsburg/Coelho Neto o teatrema é o nível que comporta a manifestação plena em termos de significação no teatro e é resultante da tripla-inter-relação das “funções”, personagem, cenário e jogo. Já o representema implica em um segundo nível de manifestação, anterior e de certo modo mais elementar, produzida pela inter-relação de outra tríade: ator, espaço e máscara. Em suma, teatrema é o teatro (personagens, trama, cenário etc.) enquanto instalação e construção dramatúrgica, isto é: cultura e tradição. E representema seria toda a situação de espetacularidade em que não há propriamente uma narrativa e mímese dramática, como por exemplo o strip-tease, os números de magia, de equilisbrismo, etc. e onde não há personagens, mas uma presença ou uma persona como no caso dos cantores em shows de música.

Embora a equação de Guinsburg/Coelho Neto para a linguagem teatral cometa o equívoco de deixar de fora justo o “x” da questão, que é o público – (e que a nosso ver é o elemento definitivo do teatro) – a engenhosa definição de representema oferece uma boa plataforma para nossa questão “não-público de teatro” (ou público de não-teatro). Para levar à cena um “recital de poesia”, Los Catedrásticos realizavam um espetáculo composto por “solos” (não-monólogos) em que os atores recitavam os textos diretamente para a platéia (mesmo no caso dos duos ou jograis). Tratava-se de um espetáculo que fingia ser um recital? (Um teatrema representando um representema?). Seja como for, não havia estória, nem personagens, o cenário era uma “ambientação” mais ou menos indefinível, nenhum diálogo, nenhum tipo de conflito, etc. De fato, formava-se aos poucos através da recitação dos “poemas”, intercalados por textos de Artaud (que ninguém entendia muito bem, mas que criavam uma certa inquietação interessante) o mosaico carnavalizado de uma impiedosa sátira. Embora no caso de Los Catedrásticos a fragmentação, a inexistência de estória e personagens, aliada à atmosfera de festa e teatro-do-absurdo permitam uma aura de contemporaneidade, seguramente foi a sua qualidade de representema (ou de não-teatro) que fundamentou o diálogo com o público.

Nesse sentido o trabalho dos Catedrásticos possui muitas semelhanças com outros “mega-sucessos” do teatro baiano, Os Cafajestes e A Bofetada, além dos não citados, porém significativos monólogos Oficina Condensada (Aninha Franco/Fernando Guerreiro/Rita Assemany): uma “aula” sobre a história do feminismo; e “1,99” (criado e interpretado por Ricardo Castro) uma “conversa” do ator com a platéia sobre o ato de sentir-se um verdadeiro palhaço no Brasil contemporâneo. Em todos a característica comum e marcante é serem “não-teatro”, ou seja: espetáculos em que o jogo, a festa, a farsa, o diálogo com o público, o non-sense, a bufonaria, etc. são mais importantes que uma eventual verossimilhança seja de uma estória ou situação. Nestes espetáculos o público está diante de presenças que se confundem com os próprios atores que definitivamente não estão “interpretando” (vivendo) nenhum personagem. Além é claro de serem comédias de matar de rir.

A perspectiva dos teatros fechados (os edifícios teatrais) do Renascimento legou à modernidade entre tantas coisas, uma rica iconografia cênica que através de plantas dos teatros, desenhos, pinturas, esboços de cenário, figurinos, adereços, esquemas de maquinários etc., fornecem testemunhos “documentos” vários que permitem à Antropologia Teatral uma visão mais precisa das relações ator-espectador.  Se a antiguidade greco-romana elaborou um sistema teatral para todos os públicos, onde os conceitos de “popular” e “erudito” eram de todo impertinentes, foi a Idade Média que plantou as sementes do que viriam a ser esses conceitos no teatro contemporâneo. Primeiro com a proibição do teatro pela igreja por vários séculos e depois com a apropriação pela mesma igreja e institucionalização do teatro como parte da liturgia e da catequese. Tudo isso resulta no movimento acadêmico-burguês renascentista que leva o teatro a edificações fechadas, progressivamente afastando-o do povo. A iconografia dessa cena se estratifica em três tipos: cenários de palácios, para gêneros descendentes das tragédias gregas onde figuravam reis, deuses e heróis; cenários de ruas, para gêneros descendentes das comédias greco-latinas onde reina o povo e seus “tipos”; cenários rurais, para gêneros pastorais (pastoris) que preservavam elementos do drama satírico, seres fantásticos e mitológicos. Apesar da elitização gradual do teatro, seus elementos iniciais e “populares” – poesia, canto e dança – continuariam em cena, ainda por muitos séculos .

Incrivelmente o conceito de “popular” utilizado por estudiosos e acadêmicos é, ainda hoje, idêntico àquele do Renascimento, herdado das origens do teatro da Grécia Arcaica ou da urbis romana. “Letra de música é poesia?” e afinal “o que é poesia?” eram algumas das questões levantadas, pelos Catedrásticos, que sob todos os aspectos faziam um espetáculo popular. Incrivelmente hoje, na sociedade de massas, nas democracias contemporâneas, nas sociedades multiculturais e pluralistas, ainda existem figuras do mundo da academia pensando em termos de “raízes” de “identidade cultural” e de cultura/arte “popular” (Pastoril? Bucólica?). Não haveria em tudo isso uma confusão com o folclore? Não haverá também e sobretudo uma confusão entre o comercial e o popular? Hoje na Idade Mídia, popular é (só pode ser) o que agrada a muitos (já que “a todos” é praticamente impossível). São do período romântico tanto as utopias democráticas e republicanas, quanto a utopia de uma “arte para todos” (rompendo com os padrões eruditos e acadêmicos do Renascimento). Qual seria então a origem da mentalidade hegemônica no meio cultural de desqualificação do que é popular (isto é, do que agrada a muitos)? A mesma pseudo erudição está por trás da idéia muito difundida entre literatos de que “poeta” é uma título honorífico e não uma prática, um prazer, ou uma profissão. De acordo  com este ponto de vista designar-se alguém como “poeta” significa uma condição de clara superioridade, como se não pudesse haver maus poetas ou mesmo poetas medianos. Uma parte da polêmica cuidadosamente provocada pelos Catedrásticos (e que se acentuava pelo sucesso do próprio grupo) envolvia os conceitos de poesia, música e popularidade. Tudo isso que soava (soa?) contemporâneo e controverso, estava prefixado pela clarividência de J. L. Borges no capítulo “As Letras” da sua História do tango publicada em 1930:
De valor desigual já que notoriamente derivam de centenas de penas heterogêneas, as letras de tango, elaboradas pela inspiração ou pelo esforço compuseram, ao fim de meio século, um quase inextricável corpus poeticum que os historiadores da literatura lerão ou, em todo caso, vindicarão. O popular, sempre que o povo já não o entenda, sempre que os anos tenham-no tornado antigo, obtém a nostálgica veneração dos eruditos e permite polêmicas e glossários; é verossímil que até 1990 surja a suspeita ou a certeza de que a verdadeira poesia do nosso tempo não está em La Urna de Branchs ou em Luz de Província de Mastronardi, mas nas obras imperfeitas que se entesouram em El Alma que Canta.  (...) Também poderíamos dizer que estas (as letras de tango) formam uma vasta e desconexa comedie humaine da vida de Buenos Aires. Sabe-se que Wolf escreveu em fins do séc. XVIII que a Ilíada antes de ser uma epopéia foi uma série de cantos e rapsódias; isto permite, talvez, a profecia de que as letras de tango formarão com o tempo, um longo poema civil, ou sugerirão a alguém, ambicioso, a escrita deste poema.
Investir contra a folclorização dos artistas ditos populares e ditos “autênticos” (e sempre pobres miseráveis) por parte do mundo acadêmico (o “bom crioulo” e o “universotário” segundo Rogério Duarte em Tropicaos); contra a estereotipia de compositores jovens e criativos (criadores do axé, do samba-reggae e de milhares de ritmos...)  pela indústria fonográfica; contra um teatro velho de estórias e personagens feitos para espectadores privados; buscar inspiração em ícones da espetacularidade popular brasileira como Oscarito, Carmem Miranda, Grande Otelo, etc., foram algumas das marcas do Recital da Novíssima Poesia Bahiana, uma criação de Los Catedrásticos que em seus três anos e meio ininterruptamente em cartaz, entre Salvador, (vários teatros) cidades do interior da Bahia, Sergipe (Festival de São Cristóvão), Rio de Janeiro, (Teatro Glauce Rocha) e São Paulo (Teatro Ruth Escobar e Teatro Sérgio Cardoso), provocou gargalhadas de estimados 120.000 expectadores. Era sucesso em dimensão realmente profissional, e suficiente para um teatro vivo. Mas, no caso dos Los Catedrásticos, igualmente importante foi a polêmica e o reconhecimento: quantas vezes (o anonimato é prerrogativa do diretor) assistimos em bares, restaurantes, shoppings, bancos etc discussões acaloradas sobre nossa peça e sobre música, poesia, e indústria cultural? Além disso ainda participamos, “visivelmente” no caso, de inúmeros seminários e eventos de escolas, institutos universitários. Todo esse debate repercutia e era repercutido pela imprensa, que se manifestou com exuberância, e vitalidade, também refletindo as várias opiniões dos famosos. Em suma: Los Catedrásticos, ao consolidarem o assunto “letra de música versus poesia” na agenda da imprensa local e nacional, acabaram por catalizar a maior polêmica já realizada em torno de um espetáculo teatral produzido na Bahia.


 

3º ato: "A derrota da razão" (Poesia Trágica)
(Peripécia X Reconhecimento; Nó X Desenlace e ironia são elementos da Tragédia segundo Aristóteles)
Em "A Origem da Tragédia na Música", Nietzsche sustenta que a Tragédia Grega surgiu aproximadamente no século VII a.C., a partir dos festejos em homenagem ao semideus Dionisius (Baco), festejos que em tudo se assemelhavam ao carnaval da Bahia. Fenômeno universal, a arte (poesia) demonstra que a realidade está fora do alcance da razão humana. Aliás, "realidade" é apenas uma palavra e uma idéia, que provavelmente nada tem a ver com a realidade. Do mesmo modo que "o coração tem razões que a própria razão desconhece".
Cena 1 - peripécia: "Maria Joaquina"(Osmagrinho e Moreno) com Jackson Costa Reconhecimento: Fernando Conceição (Jornal A Tarde, março/91) com Ricardo Bittencourt.
Cena 2 - peripécia: "Rapunzel" (Carlinhos Brown e Alain Tavares) com Maria Menezes e Jogral Dialético. Reconhecimento: Hamilton Vieira (Jornal A Tarde, fevereiro/90) com Jackson Costa.
Cena 3 - peripécia: "A dança do Cachorrinho" (Márcio Luigi) com Ricardo Bittencourt e Jogral Dialético. Reconhecimento: Suzana Varjão (Jornal A Tarde, março/91) com Cyria Coentro e Jogral Dialético.
Cena 4 - peripécia: "Embolê" (Nego do Surdo, Bôboco e Marçal) com Zéu Brito e Jogral Dialético.
Nó: Meu cabelo duro é assim (Bell Marques, Vadinho Marques e Paulinho Camafeu) com Cyria Coentro e Jogral Dialético (autores vários).
Desenlace e Ironia: o que será, será? (Jogral Dialético) Êxodo.

4° ato: Carnaval dos mortos (poesia turístico-transcendental)
"Abandonem as esperanças, os que entrarem" era o que estava escrito na porta do inferno, ­episódio do poema de Dante Alighieri "A Divina Comédia". Nele, o poeta também visitava o céu e o purgatório na esperança de encontrar a sua amada. Já na "Comédia Humana" de H. Balzac não há lugar para esperanças, ao contrário da comédia baiana (NPB), que articula a seguinte pergunta: Haverá carnaval depois da morte?".
Epitáfio 1: "Meu professor é Boiola” (Dito e R. Fechini). Recitante: Zéu Brito.
Epitáfio 2: "A dança do Pirulito" (M. Luigi e R. Danger). Recitante: Maria Menezes.
Epitáfio 3: "A minha vida é minha" (C. Brown e D. Caldas). Recitante: João Miguel.
Epitáfio 4: "A dança da Cordinha" (J. Zaratii, Dito e R. Fechini). Recitante: Cyria Coentro.
Epitáfio 5: "O Corno" (Cal Adam e Chocolate da Bahia). Recitante: Ricardo Bittencourt.
Juizo Final: "Raimunda" (Gang do Samba). Recitante: Jogral de Zumbis.
Fui até o lugar onde nasci e gritei: "os amigos de minha juventude, onde estão?" E o eco respondeu: "onde estão?" fui até os muros da cidade e gritei: "Qual é o sentido da vida?!" E o eco respondeu: "a vida!".
De que serve correr, quando se está no caminho errado? Já que não existe um caminho único, cada um terá de encontrar o seu. É o que parece nos dizer "Raimunda" enquanto passa ressuscitando os mortos.
Buraco Negro "A Bunda..." (Carlos Drumond de Andrade)
Carlos Drummond de Andrade, criou junto com outros baianos ilustres (Santos Drumond e Osvaldo Andrade) o Bloco de Carnaval- Tropicalista Filhos de Grande, no século passado. Por que não? Quem olha para fora sonha quem olha pra dentro, acorda.
Entreato: O final do juízo...
Uma catarse democrática e universal rompendo os limites entre o palco e a platéia, entre a ficção e a realidade.

 5 º ato: Navegação: www.svn.com.brlloscatedrásticos/
Novamente a mistura do Brasil com o Egito. Como Napoleão Bonaparte que invadiu o Egito em busca de sabedoria antiga e mística dos sacerdotes e faraós, NPB faz aqui uma grande síntese entre as danças do ventre, do bumbum, do au-au, da tartaruga e do pirulito, que significam em sua alegria e sensualidade a fé em um mundo melhor e mais justo e a esperança em uma humanidade, que vai superar seus problemas atuais apoiada por um só pensamento central e inspirador: nunca acredite no que dizem os outros.
Axé! - Ralando o Tchan ("é o Tchan") - We are the World of Carnaval (N. Guanaes) Jogral Catedrástico.
Êxodo Final : retorno ao futuro. - "salve-se quem souber".
Feito com a cabeça para fazer a cabeça : Arte é emoção e entretenimento. Agindo como um espelho, pode enriquecer o cotidiano e ampliar a imaginação das pessoas. Esse é o fundamento da Novíssima Poesia Bahiana, apresentado por Los Catedrásticos, agora além dos limites da baianidade. O espetáculo, que estreou em novembro de 97, e vem conseguindo casas lotadas, significa uma retomada pelo grupo de uma temática já conhecida do grupo desde o Recital da Novíssima Poesia Bahiana, que entre 89 e 91 foi apresentado centenas de vezes em todos os tipos de espaços - teatros, bares, sindicatos, hospícios, asilos, shoppings, centros comunitários, quadras esportivas, empresas, manifestações político, culturais, festivais, etc. - atingindo milhares de espectadores e consagrando-se não apenas como um dos maiores sucessos, mas principalmente como um dos mais polêmicos espetáculos já realizados na Bahia. O olhar enviezado de alguns teima em considerar banalidade o fenômeno da música baiana. Caracterizada por um enorme poder descentralizador (em relação ao sul), por uma profunda vocação mercadológica regional, nacional e internacional, além de pluralidade e especificidade estéticas, a "Música Bahiana" é um dos mais significativos fenômenos da história recente da cultura brasileira. Público, artistas, mídia, políticos, todas as peças da indústria cultural estão representadas nas cenas da Novíssima Poesia Bahiana. O espetáculo aborda ainda o trabalho teatral do próprio grupo Los Catedrásticos, além de questões contemporâneas como a conquista e transformação do passado e: "será a derrota da razão um fato definitivo?" Não deixando de anotar a expansão internacional da nossa música. Música escrita para tocar muito alto impede que se ouçam os próprios pensamentos. Fazendo comédia da carnavalização do cotidiano, a Novíssima Poesia Bahiana é um espetáculo que vai do axé e do jogo para o ori (cabeça) e daí para o orum (planos superiores onde dançam as forças que verdadeiramente determinam a vida no planeta). É um espetáculo feito com a cabeça para fazer a cabeça. revelando (retirando véus), desenvolvendo (retirando invólucros) e descobrindo (retirando cobertas) para que as pessoas fiquem sabendo o que já sabiam sem saber. Pois "para aqueles que descobrem belos significados em coisas belas, para estes há esperança" (Oscar Wilde). Ou como no enigma poético, semiológico e baiano: "nunca acredite no que dizem os outros".



Em sua segunda temporada o Recital da Novíssima Poesia Bahiana transmutou-se em Novíssimo Recital da Poesia Bahiana que ainda viria a  ter vários outros títulos durante os seus mais de quatro anos de temporada ininterrupta (NPB – Novíssima Poesia Bahiana; NPB; NPB – Uma Ópera Buffa; NPB Remasterizada – Incluindo Novos Sucessos; A Comédia Bahiana e Enfim o Fim), correspondendo sempre a atualizações ou outras mudanças de roteiro. O espetáculo desta segunda temporada foi produzido pelo Theatro XVIII (projeto “Recordar é Reviver”) e significava a reunião do grupo depois de alguns anos de separação. [11]

Se a primeira versão do Recital “surgiu” a partir de uma performance de greve, apresentada na UFBa, a segunda, bem mais elaborada, foi criada em função de tudo que havia ocorrido na primeira temporada e também em relação aos avanços do axé-músic, agora solidamente estabelecido como um grande empreendimento nacional. Como se pode ver pelo fragmento do programa (quadro acima) o Recital progredira: agora era composto por cinco atos (cada um com cinco cenas), entreatos, prólogo e epílogo em um emaranhado de textos que incluíam além das letras-do-axé, fragmentos de críticas sobre Los Catedrásticos, poemas como “A Bunda” de Carlos Drumond de Andrade, textos de Artaud, da Seicho- No- iê; de Sidarta Gautama – o Buda, além de outros textos criados pelo próprio grupo. Ou seja: agora tínhamos com clareza o propósito compartilhado de criar um espetáculo e consolidar o nosso grupo, (Los Catedráticos sempre foi um grupo, com remunerações iguais, tarefas divididas, muita discussão etc). Agora estávamos artisticamente mais maduros (ao longo de anos havíamos compreendido melhor o ethos da profissão) e então nos quinze dias em que trabalhamos (pesquisa, roteiro, improvisação, texto, montagem de cenas, figurinos, cenários e iluminação), fizemos uma sátira muito mais contundente que a primeira. Pensávamos que agora estávamos prontos, mas o sucesso nos surpreendeu como o caminhão de Macabéa. Vimos que dessa vez ia ser muito maior que a primeira e nos lançamos à tarefa. De 97 a 2001 fizemos mais de quatrocentas apresentações (quase duzentas em 99!). De novo fizemos temporadas em vários teatros de Salvador, no Rio (Teatro Ipanema), em São Paulo (Teatro Brasileiro de Comédias) e em Vitória do Espírito Santo. A diferença era que as temporadas agora eram mais longas, mais estruturadas, para platéias maiores e com uma eficiência artística muito superior à do passado. Também fizemos centenas de apresentações em eventos (políticos, festivos, shows, educacionais, publicitários, etc.) em congressos (apresentações gloriosas como no Congresso da UNE/2000 em Salvador ou catastróficas como em um congresso nacional de vendedores de agrotóxicos no Club Mediterrané), em festivais como o Festival Internacional de Londrina e vários espaços não convencionais como boates e danceterias, sempre para platéias numerosas. Nesses quatro anos em cartaz duas novas linhas de ação de Los Catedrásticos merecem destaque: primeiro apresentações em praça pública (ao ar livre). Embora seja um ambiente típico das manifestações culturais baianas, são raros os grupos de teatro que se apresentam nas ruas. Fizemos algumas apresentações realmente memoráveis (o recital funcionava como um show de música) para muitos milhares de espectadores (entre cinco e dez mil) no Terreiro de Jesus, na Ribeira, na Lagoa do Abaeté, e nas cidades de Santo Amaro da Purificação e Nazaré das Farinhas. Chegamos também a fazer vários e irreverentes debates com o público (aproximadamente 1.000 espectadores/por noite) em nossa série de apresentações nas praças do Pelourinho, intituladas “Ao Pelourinho com a Ópera Buffa de Los Catedrásticos!”. Mas a grande conquista da segunda fase de Catedrásticos foi mesmo o interior do estado. Universo culturalmente desprezado pela classe teatral (que sempre pensa colonizadamente no sul do país) e mercado potencialmente interessante, as cidades do interior do estado da Bahia constituíram um circuito que foi percorrido regularmente por Los Catedrásticos, obtendo um grande retorno, principalmente pela grande sensibilidade, cultura e capacidade de reflexão das platéias (quase sempre mais sofisticadas que os espectadores de não-teatro de Salvador) mas também pelo interesse de um número realmente expressivo de espectadores (foram cerca de 90 apresentações para mais de 50.000 pagantes).“É idiotice censurar a massa por não ter o senso do sublime (...) E se, p.ex., a massa de hoje já não compreende Édipo-Rei ouso dizer que a culpa é de Édipo-Rei e não da massa (...) As obras primas do passado são boas para o passado, não para nós, temos o direito de dizer o que foi dito de um modo que seja nosso, imediato, direto, que responda aos modos de sentir atuais e que todo mundo compreenda.” Recorro a Artaud que no seu “Acabar com as Obras Primas” (capítulo de O Teatro e seu Duplo) sintetiza a nossa próxima reflexão. Evidentemente a resposta do público a Los Catedrásticos vem em primeiro nível na forma de um regionalismo: o público se vê nas referências do texto (dos “poemas”) e a sátira funciona através da oportunidade oferecida pelo teatro ao espectador de distanciar-se criticamente da sua comunidade. Mas isso não é o suficiente para explicar o encontro dos Recitais com o público. Apesar de haver na “revelação” do conteúdo das letras uma espécie de metáfora universal da sociedade de consumo (e das manipulações da mídia) também não creio que apenas isso seria o suficiente enquanto explicação. O que de fato há em Catedrásticos é um encontro do tema com a forma. Forma, que se por um lado é não-teatro, representema e recital, por outro é também a busca de uma dinâmica cênica carnavalizada cuja raízes estão nas chanchadas da Atlântida e no Teatro-de- Revista, reeditados numa ótica contemporânea. Em suma em Los Catedrásticos o roteiro, a dramaturgia e a encenação conduziam o público, do envolvimento emocional ao entendimento racional de um tema ao mesmo tempo conhecido e estranho; popular e erudito.
A Bunda 
Engraçada está sempre sorrindo/Nunca é drástica/ Não importa o que vai pela frente do corpo/ A bunda basta – se/ Existe algo mais?/ Talvez, os seios/- Ora! Murmura a bunda, garotos,/ ainda, lhes falta muito o que estudar/ Na cama agita-se/ Montanhas avolumam-se – descem,sobem/ Ondas batendo numa praia infinita.../Lá vai sorrindo a bunda/ Vai feliz na cadência de ser e balançar/ Esferas harmoniosas sobre o caos/ A bunda é a bunda, /Redunda/ A bunda é a bunda,/Redunda. (Carlos Drummond de Andrade).

O roteiro e a dramaturgia do novo recital de Los Catedrásticos, claro, não poupavam ninguém: o público, artistas, o mundo acadêmico, os políticos, a indústria cultural e ... a imprensa! Os músicos apoiaram, como sempre; o imenso público pagante riu ainda mais (de si mesmo) ao reconhecer suas canções favoritas naquele universo absurdo e ao compreender que era ele o verdadeiro alvo daquela sátira; os políticos, principalmente os da “esquerda”, resmungaram diante da frase (extraída de uma entrevista de Chitãozinho): “Não importa o partido, pra mim dinheiro de político é tudo igual”. Mas... e a imprensa?

O 3º Ato do Recital chamava-se “A Derrota da Razão”. O título era inspirado no livro do filósofo francês Alain Finkelkraut A Derrota do Pensamento que por sua vez pertence ao universo das Imposturas Intelectuais de Alan Sokal. As cenas de “A Derrota...” baseavam-se ainda na divulgada criação de “linhas e grupos de pesquisa” em programas de pós-graduação das principais universidades da Bahia, destinados a estudar e produzir teses sobre a música baiana (!!). Para que não haja dúvidas: música baiana quer sim dizer axé-music (!!!) além é claro de seus parentes próximos – samba-reggaes, timbaladas e outras levadas indefiníveis e inumeráveis. Então, na ficção das cenas de “A Derrota da Razão”, catedrásticos “estudiosos” explicavam e debatiam em uma assembléia acalorada o sentido de letras como as de “Maria Joaquina” e “Rapunzel”, p.ex.. Cada cena/debate era seguida de um entremeio cujo texto era um excerto de “críticas” (não só as críticas negativas, mas também as favoráveis), publicadas durante a primeira versão/temporada do recital. Também como no caso dos poetas, os atores citavam as fontes, que eram no caso o “crítico”, o veículo, o dia/mês/ano etc.. Era um dos pontos de alta-temperatura em termos de humor/delírio do recital.
“Há uma diferença básica entre o palanque doutrinário e a tribuna da imprensa. Naquele, o compromisso maior assumido, é com a mão única da catequese. Neste, a análise imparcial das multifacetárias manifestações sociais deve sobrepôr-se a caolha observância do que rezam as cartilhas partidaristas. E é, por me afastar disso, que eu consigo bater palmas para Los Catedrásticos. Bato palmas porque livre da venda catequista, eu consigo enxergar no espetáculo, o que ele tem de fundamental, que é o poder de negar a palavra pela palavra, não importa qual seja nem quem a proferiu. O poder do discurso rompido por Los Catedrásticos, multicolor por sinal, é fator secundário diante da capacidade do novíssimo teatro baiano de despertar a compreensão do processo da construção de significados”. Suzana Varjão, Jornal A Tarde, 08 de março de 1991... Entendeu? (Fragmento da cena A Derrota da Razão).

Nosso objetivo inicial era o de atualizar o roteiro à medida que fossem publicadas novas críticas – aliás de modo idêntico ao que fazíamos com os “novos sucessos” musicais. Incrivelmente não foi possível. Porque? Simplesmente não houve críticas sobre a segunda versão do recital. Nem uma. Aliás quase nada foi publicado na Bahia sobre Los Catedrásticos nos quase quatro anos de sua segunda temporada. Muitas vezes estivemos excluídos até das páginas de serviço dos jornais (no caso do jornal A Tarde, quase sempre) o que deve significar a ruptura de algum código de ética (?) uma vez que uma página de serviço de um jornal supostamente deveria divulgar todo o movimento cultural, principalmente em uma cidade do porte da Salvador dos anos 90. A “censura” financeira (censura “branca”?) imposta pela manipulação do noticiário cultural em todo caso não funcionou. O que é grotesco, sobretudo, é a discrepância desproporcional entre a vitalidade e densidade de Los Catedrásticos no cenário cultural baiano e a sua presença (ou ausência) nos jornais. Los Catedrásticos literalmente sumiram dos jornais. Uma pesquisa nos cadernos culturais do período inevitavelmente esbarrará numa cortina de silêncio e concluirá que houve, sim, um grupo de teatro que teria, certa feita, feito algumas apresentações esparsas de poesia, mas nada que se assemelhe, nem de longe ao que de fato aconteceu. O compromisso ético (?) dos jornais com um retrato verossímil e factual da história é no caso dos Catedrásticos uma aberração diante da qual “Chupe meu Braço” por exemplo, parece um capítulo de Teletubbies. Como este parece ter sido também o caso de vários outros grupos/espetáculos, é no mínimo curioso que os vários estudos e teses já realizados sobre a crítica de arte/cultura baiana, jamais tenham sequer mencionado, ainda que superficialmente, o assunto. O problema felizmente limitou-se à “imprensa escrita” Porque Catedrásticos sempre dialogaram bem com a TV. Ao contrário dos músicos, os “críticos” (na verdade repórteres), não conseguiram encarar com humor e generosidade as nossas visões. Levam-se a sério demais. A primeira temporada estabelecia então com a segunda uma estranha proporção inversa na relação entre massa/densidade cultural e espaço midiático.

Haveria muito mais a ser dito sobre a aventura e a experiência de Los Catedrásticos. Penso, logo hesito. Pergunto-me se de fato tudo isso vale a pena. Haverá teatro no futuro, digamos daqui a 30 anos? Já é noite, tarde e enquanto rabisco as últimas palavras deste artigo, toca o telefone. Uma produtora. Precisa de um espetáculo “fácil de se adequar a qualquer espaço”. Informa que o cachê é bom e pergunta por Catedrásticos. Me diz que sim, que sabe que a peça saiu de cartaz há vários anos, e insiste, “mas vocês não estão fazendo mais? de jeito nenhum?!” insinuando que remontássemos (“é fácil!”) só para o evento, etc. Finalmente convencida, me fez prometer antes de desligar que retomaremos o projeto de Los Catedrásticos para 2006, “depois nos falamos, tchau”. Arte não tem fórmulas. Não existe uma teoria do teatro. Uma das maiores lições da cultura teatral é que uma coisa pode ter vários sentidos a depender da situação. Então posso afirmar, tranqüilamente, que o Teatro Revolucionário, na Bahia, é o Teatro Comercial. A revolução que ainda não aconteceu na Bahia, é a revolução do Teatro Comercial. Se não, vamos ouvir Artaud ainda mais uma vez, em “A Encenação e a Metafísica” :

“O teatro contemporâneo está em decadência porque perdeu, por um lado, o sentido da seriedade e, por outro, o do riso. Porque rompeu com a seriedade, com a eficácia imediata e perniciosa – em suma, com o Perigo. Porque perdeu, por outro lado, o sentido do humor verdadeiro e do poder da dissociação física e anárquica do riso. Porque rompeu com o espírito de anarquia profunda que esta na base de toda poesia.” (O teatro e seu duplo)
                                                 
Teatro da Crueldade é fazer um espetáculo que faça sucesso e que interesse ao público (ou aos públicos) e que fique muito tempo em cartaz. Crueldade é pagar bem aos atores, ao diretor, ao autor, produtores e a toda equipe; é fazer temporadas populares, inclusive em praças públicas ou em centros comunitários; Teatro da Crueldade é encher o teatro de vida e de sentido. Sem piedade. Foi com Los Catedrásticos que aprendi que tudo isso era possível. Só.
(Texto escrito em 2005).


[1] “Anã”, corruptela de anão. De fato entre 2000 e 2001 houve na Bahia, um conjunto musical de grande sucesso “Nossa Juventude”, onde se destacava a presença de Pepe, um anão, entre os dançarinos e cantores.
[2] “Os” Los Catedrásticos, modo pelo qual o grupo era geralmente nomeado pelo público e às vezes pela imprensa. A designação Catedrásticos revela a origem acadêmica do grupo e o artigo “Los”, sugestão de um colega do comando da greve para a qual o recital foi criado, ressalta o seu caráter de sátira ao bacharelismo.
[3] Uma temporada no Maria Bethânia era , à época, o máximo que um grupo local podia almejar. Ali fizemos dois meses de lotação esgotada (o teatro tinha 700 lugares) e observe que ainda se usava fazer espetáculos de quinta a domingo, o que hoje já não se faz, principalmente em temporadas mais longas. Outro fato marcante da temporada foi que para assistir Los Catedrásticos, Maria Bethânia esteve pela primeira e única vez no teatro que levava seu nome e que hoje é o Bingo Rio vermelho.
[4] “Olodum convida para debate”. Vários sucessos do Olodum integravam nossos espetáculos e dentre eles o lendário “Faraó”. Consta que os diretores do Olodum em visita ao British Museum perceberam a negritude dos Faraós egípcios. Amparados nessa percepção criaram o Olodum, grupo cultural cuja influência extrapola em muito o universo carnavalesco e cuja importância já é histórica na cultura brasileira. A letra da canção “Faraó” é um manifesto pela adoção da cultura egípcia no Brasil e pelo abandono das tradições dos yorubás,  gêges, bantos etc. Em função da sua ampla utilização satírica em “Los Catedrásticos”, a realização de um espetáculo-debate na sede do Olodum foi recebida com reserva por setores da imprensa. Para participarmos do evento, no entanto, tínhamos estabelecido uma condição: em contrapartida o Olodum deveria também participar, tocando em um dos nossos espetáculos. Possivelmente devido ao sucesso da “troca”, Olodum e Catedrásticos encontraram-se em vários outros eventos, o que animou p.ex o “crítico” Hagamenon Brito a afirmar no Jornal A Tarde que em vez de tocar no teatro com Los Catedrásticos o Olodum deveria “fazer a coisa certa”, possivelmente insinuando que os músicos do Olodum deveriam agredir os atores de Los Catedrásticos a exemplo dos conflitos e pancadarias do conhecido filme do diretor americano Spike Lee (“Faça a Coisa Certa”) baseado em questões musicais e raciais.
[5] “Fato inédito”. De fato Los Catedrásticos é o primeiro espetáculo baiano (dramaturgia,criação, texto,etc) criado por um grupo, que movimentou a combinação de polêmica, platéias e temporadas ininterruptas em proporções solidamente profissionais. Sucesso nacional e o maior sucesso de público do teatro baiano até hoje, A Bofetada (Direção Fernando Guerreiro c/ Cia. Baiana de Patifara), que precedeu Los Catedrásticos em alguns meses, é formada das melhores cenas do besteirol carioca. Também já no ínicio dos anos 90 surge o musical “Os Cafajestes” (texto Aninha Franco/Dir. Fernando Guerreiro), talvez a criação cênica baiana que mais prestígio crítico angariou aliado a um imenso público em todo o país. Ainda hoje, mais de 15 anos depois, Bofetada, Cafajestes e Catedrásticos compõem o marco referencial de excelência, profissionalismo, sucesso de público, e repercussão do teatro baiano no contexto nacional.
[6] “Remasterizada” é uma palavra amplamente utilizada no jargão da indústria da música e que musicalmente não tem significado algum. Remasterizar um CD significa ajustar outra vez os volumes máximos e mínimos para homogeneizar a audição das diversas faixas. A remasterização não implica em nenhuma modificação significativa em relação ao original. A palavra é quase que propaganda enganosa, e como a idéia de revelação, de desnudamento (e de engodo) é um dos fundamentos de Los Catedrásticos, resolvemos adota-la como imitação e sátira teatral à indústria da música.
[7] Paes Mendonça era o nome do velho supermercado que nos anos 80 funcionava no bairro do Canela, ao lado da Escola de Teatro da UFBA. A sua menção já no ano 2000 estabelecia de imediato para as diversas platéias baianas o absurdo cômico da situação. Se por um lado essas palavras evidenciavam o caráter provinciano do ambiente cultural da Bahia, por outro revelavam que mesmo no caso de um “mega-sucesso” (que é como a imprensa conceituou a peça) como Los Catedrásticos, o público é sempre extremamente desatento para “detalhes” que no caso seriam os diversos espetáculos apresentados pelo grupo. Também amplos setores da imprensa não perceberam que os diferentes títulos correspondiam a diferentes espetáculos. Enfim, para a maioria das pessoas prevaleceu o nome do grupo “Los Cadedrásticos” em detrimento dos diversos títulos dos diversos espetáculos apresentados pelo grupo.
[8] “O” Axé-Músic: essa expressão ainda não existia quando estreamos o recital. Consta que foi difundida a posteriori pelo “crítico” Hagamenon Brito como uma designação pejorativa ao movimento de produtores musicais, compositores e cantores baianos, que  a partir de estilos distintos criou em torno do carnaval, um mercado autônomo e extremamente bem sucedido de produção e consumo de gravações, eventos e grupos musicais. A expressão propalada por Brito cuja  principal preocupação “crítica” era depreciar os empreendimentos culturais baianos de sucesso, acabou sendo adotada pela mídia nacional que não se apercebeu ou simplesmente ignorou o caráter deletério da designação. Registre-se a indignação de Dorival Caymmi pela aplicação da palavra “axé”, sagrada no âmbito do Candomblé, a esse universo nada santo. Como acabou sendo adotada por todos, vamos utilizá-la aqui para designar as canções cujas  letras integravam o recital.
[9] São inúmeras as conquistas internacionais do axé-music, como por exemplo: excussões internacionais de Margareth Menezes com David Byrne (Talking Heads) e as gravações do Olodum com Paul Simon e Michael Jackson; já as gravações de Daniela Mercury em um certo momento venderam mais em vários países europeus do que ídolos mundiais como Madonna por exemplo; também Carlitos Marrón isto é, Carlinhos Brown teria realizado diversas apresentações para centenas de milhares de pessoas em várias cidades da Espanha.
[10] A partir dos anos 80 com o surgimento do axé, Salvador consolidou-se como uma “praça” para a realização de shows e eventos de grandes proporções. De acordo com números divulgados na imprensa não são raras as platéias de 50.000 espectadores em uma única noite de música. Também não  é exagero pensar que em uma fase “normal” (isto é: sem nenhum “mega-sucesso” em cartaz) o Teatro da Bahia (a soma de todas as peças) não obtenha esse número de espectadores pagantes em uma temporada de um ano inteiro.

[11] 1997 – 2001:  Elenco Básico: Cyria Coentro, Jackyson Costa, Maria Menezes, Ricardo Bittencurt, Zéu Britto. Substituições: João Miguel, Najla Andrade, Aycha Marques. Roteiro/Iluminação/Direção: Paulo Dourado. Assistente (roteiro/iluminação/direção): João Sanches. Cenografia: Joãozito (Blade Design). Figurinos: Roberio Sampaio. Produção: Jerry Burgos. 1989 – 1992: Elenco Básico: Cyria Coentro, Jackyson Costa, Meran Vargens, Ricardo Bittencourt. Participações: Regina Dourado, Iami Rebouças, Maria Menezes, Joana Schnitzmann, Arly Arnaud, Mariza Baruch, Eliana Pedroso, Evandro Néri, Gideon Rosa, Osvaldo Mil. Roteiro/Iluminação/Direção: Paulo Dourado.


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